As ruas da minha casa


Ruas singelas,
Discretas,
Felizes,
E conturbadas.

Ruas de mão única,
De asfalto,
De pedra,
Ou terra molhada.

Ruas do João,
Da Maria,
Do Raimundo,
E da Luzia.

Ruas que sobem,
Que descem,
Que fazem curva,
Ou são sem saída.

Ruas desertas,
Cheias de gente,
De muitos carros,
E algumas carretas.

Ruas do choro,
Do riso,
Da conversa sem sentido,
Ou até do namorico.

Ruas do comércio,
Da sorveteria,
Dos bancos,
E das pizzarias.

Ruas dos passos largos,
Curtos,
Estressados,
Ou apressados.

Estas são as ruas,
Ruas sem farsa,
Ruas que são ruas,
Ruas da minha casa.

O Mineiro


Mineiro fala “Uai”,
Não perde o “trem”,
E tem a mania do “sô”.

Tem sotaque engraçado,
Fala mansinho,
Mas, é trabalhador.

Por onde chega é notado
Pelo seu “jeitinho” quieto
E, um tanto desconfiado.

É bem receptivo
E mostra que gosta “docê”,
Mesmo sem ainda te conhecer.

Fala “coisas”,
Conta “causos”,
Torce pro Atlético,
Ou levanta a bandeira da Raposa.

Gosta de um queijo,
Faz como ninguém um pão de queijo,
E, os doces... Ah, os doces!!!
São perdições para as dietas,
E “gostinho” para o paladar.

O mineiro tem marca registrada,
Tem alma simples,
E orgulho da morada.

* Esta poesia eu dedico a todos os Mineiros que tem orgulho de ser quem são e entendem que "uai, é uai".

A chuva e as lágrimas


Lá fora chove
E, aqui dentro também.

Uma chuva dolorida,
Severa e intensa.
Chuva de verão,
Ou talvez de solidão.

Chuva que encharca abrigos
E, dilacera o coração.

Chuva que vem da janela,
Ou, do rosto da donzela.

Chuva que manda embora o calor,
Dá “tchau” para o amor
Bane sonhos e desejos.

Chuva que chove,
Que lamenta,
Que corrói.

Chuva que é lágrima
Ou, cortina úmida de sentimentos.

Chuva que é minha,
E, insiste em molhar meu corpo
Calejado de ilusões.

Chuva...
Chuva!
Chuva e lágrimas.

Medo


Ele está em mim.

Às vezes tira os sentidos,
gera incerteza,
vazio e uma culpa que sufoca.

Bane sonhos,
dilacera corações,
corta olhares e reveste de lágrimas a alma.

Faz o dia virar noite,
os verões serem frios,
as flores não florirem e a vida esquecer da esperança.

Ele faz parte de mim.

Fui educada para ele.
Revestida por ele.
Amaldiçoada com ele.

Seu nome, é medo.

Medo com “M” maiúsculo.
Medo que vem da gente.
Medo que paralisa a gente.

Medo que faz o certo virar errado.
Medo que faz o feliz não ser “feliz para sempre”.
Medo que faz medo.
Medo de acordar e sentir ainda mais medo.
Medo de ser simplesmente EU.

* Poesia inscrita no V Concurso Crônica e Literatura e premiada com honra ao mérito.